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quinta-feira, 26 de julho de 2007

Há limites para a disputa política

Não é hora de se fazer disputa política. É hora de chorar os mortos e demonstrar o mínimo respeito pela dor e sentimentos das famílias enlutadas.
Lula Miranda

Em uma democracia, até mesmo nessa repleta de imperfeições como a nossa, a disputa política é natural, uma conseqüência do exercício pleno dos direitos e aspirações políticas dos cidadãos. Porém, essa disputa não pode jamais se confundir com uma espécie de vale-tudo, onde os golpes baixos, a falta de ética e a insensatez são banalizados como recursos a serem utilizados numa diuturna e incessante guerra pelo poder – ao que parece, o poder pelo poder simplesmente, já que não se ouvem propostas concretas ou políticas públicas alternativas e eficazes. Mas, aviso aos combatentes, até mesmo na guerra há limites.Semana passada, vivemos, todos os brasileiros, uma doída tragédia no aeroporto de Congonhas, na cidade de São Paulo, onde morreram 198 pessoas – esse é o número de vítimas até o momento. De imediato, ainda perplexo, vendo ao vivo pela TV as imensas chamas que a tudo consumia, logo deduzi que dali não sairia ninguém vivo. Pensei então nos que tiveram o destino, sonhos e projetos de vida interditados naquele pavoroso acidente. Passaria aquela noite em claro, com um aperto no coração, pensando nas vítimas, na dor e tristeza profundas por que passavam seus parentes e amigos. Quantas mães e pais experimentaram naquela noite o desespero, a amargura e dor extremos de perder os filhos de uma maneira tão trágica e inesperada? Quantos perderam seus maridos e esposas, companheiros e companheiras, seus amores e parceiros de longas jornadas?Estarreceu-me ver, ainda sob a intensa luz e calor das chamas que iluminavam aquela noite macabra, jornalistas e comentaristas na TV fazendo deduções apressadas, portanto precipitadas, sobre as causas do acidente. Falavam – e demonstravam, reiteradas vezes, através de toscas animações – em derrapagem na pista. Elegiam “culpados”. Procuraram, de imediato, culpar o governo, o tal “apagão” ou “caos aéreo” pelo acidente, pela tragédia. Eu, ainda emudecido e perplexo, só conseguia pensar nas vítimas e na dor dos seus parentes e amigos.Na manhã seguinte, passando por uma banca de revistas, li, estarrecido, uma chamada de capa do jornal Folha de S.Paulo onde se lia que aquele trágico acidente – enfatizo, acidente – era, na verdade, um “crime” cometido pelo presidente Lula e seu governo, isso dentre outras sandices e irresponsabilidades. Detalhe: o autor do texto assinava como “psicanalista”. Incomodado por aquelas palavras tão duras e impróprias naquele momento, fruto de flagrante precipitação, açodamento e imaturidade, e diante de tamanha virulência e insensatez, ainda assim só conseguia pensar nas vítimas do acidente, em seus amigos e familiares.Apesar de ainda não se saber(em) a(s) causa(s) daquele acidente medonho, as manchetes de jornais e os noticiários da TV seguiram culpando, com prepotência e precipitação, o governo. Era preciso arrumar logo um culpado. Os bombeiros – valorosos homens e mulheres que trabalharam incessantemente naquela noite, esses sim merecem nosso reconhecimento e agradecimento –, esses, naquele instante, não pensavam em possíveis culpados. Mal os intrépidos bombeiros finalizaram o rescaldo do incêndio, já se iniciara, na internet e em toda a mídia, uma infame disputa política, com uma intensa guerra de opiniões, impressões, “eu-achismos” e versões acerca do ocorrido e dos possíveis responsáveis pela tragédia. Não sei quanto a você, caro leitor, mas devo dizer-lhe que fiquei enojado com isso tudo: a exploração da desgraça alheia como instrumento de um modo sórdido e oportunista de se fazer política. Enojado e revoltado com esses políticos (?) e jornalistas (?) – descobri que são muitos, inúmeros – que tiveram a desfaçatez, o desrespeito para com os mortos e suas famílias, a cara de pau mesmo, de tentar “faturar” prestígio, popularidade, ibope, ou sei lá mais o quê, em cima da dor e da emoção de tantos brasileiros. Onde é que vamos parar? Parece não haver limites para tanta sordidez! Desejo aqui, nesta hora, acima de todas as coisas, expressar minha compaixão, irrestrita solidariedade e carinho aos familiares de todos os homens, mulheres e crianças que perderam suas vidas naquele dia funesto. È necessário, meus prezados, com força e fé, seguir em frente. Pois a vida deve prosseguir.Deixo aqui também o meu agradecimento e homenagem aos bombeiros, demais policiais, médicos e voluntários que trabalharam, até as últimas forças, para debelar as chamas e no resgate dos corpos e, momentos antes, no salvamento dos poucos sobreviventes (alguns funcionários que trabalhavam no prédio atingido pelo avião). Esses são os autênticos e valorosos cidadãos dessa triste história – os heróis, arrisco-me a dizer, mesmo sabendo que não existem heróis. Os possíveis culpados por essa tragédia – se a empresa aérea, se algum órgão do governo, se o piloto, se o mau tempo ou a pista molhada, se todos esses agentes juntos – só o tempo e as investigações revelarão. Todos deverão, no seu devido tempo, ser responsabilizados e penalizados: o governo, por sua morosidade e/ou inoperância em implementar medidas para resolver essa crise na aviação civil ou pela precipitada liberação (sob pressão das companhias) da pista sem o tal “grooving”; a TAM pela sua volúpia/avidez pelo lucro fácil/imediato liberando para vôo um avião que se sabia avariado.Não é hora de se fazer disputa política. É hora de chorar os mortos e demonstrar o mínimo respeito pela dor e sentimentos das famílias enlutadas. È preciso dar a essas famílias, o quanto antes, o inalienável direito de prantear e enterrar os corpos dos seus entes queridos.

N.A. Por falar em disputa política... Aos que me cobram um texto sobre a morte de ACM, esclareço. Hoje, só teria uma coisa a dizer: Que descanse em paz. ACM agora é coisa do passado; já passou. Sigamos em frente. E que seus familiares encontrem alento para enfrentar a dor da perda. Não se deve tripudiar os adversários políticos – nem na hora da batalha nem da derrota e, muito menos, na hora da morte.

Agência Carta Maior.

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